PROTEJA-SE!

Por Dr. Rodrigo Góes

Fotos: Shutterstock.com

É cada vez mais frequente a presença de mulheres em atividades esportivas. Hoje, elas não se limitam mais às academias de musculação e à ginástica localizada … Ao contrário: atividades antes ditas “masculinas” – como lutas, futebol e grupos de corridas – cada vez mais caem no gosto feminino.

Entretanto, um conjunto de fatores faz com que as mulheres que praticam esportes tenham 16 vezes mais chances de sofrerem alguma lesão. Isto inclui aspectos como: biótipo corporal, modelo da pelve, angulação dos joelhos, ciclo menstrual, diferenças hormonais e potência muscular. Na sequência, abordarei alguns dos principais problemas.

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DOR NO JOELHO E CONDROPATIA PATELAR

As mulheres, de forma geral, têm uma pelve mais larga (chamada “ginecóide”) que a dos homens. Isto ocorre para permitir a saída dos filhos concebidos. No entanto, parece que esta alteração estrutural óssea cria uma grande desordem nos membros inferiores das mulheres, levando a significativas e desfavoráveis alterações biomecânicas.

Elas apresentam uma tendência ao “genovalgo” dos membros inferiores (pernas em tesoura ou em “X”), com a consequente lateralização da patela, causando uma sobrecarga na articulação dos joelhos e uma tendência ao desenvolvimento da patologia denominada “condropatia patelar”, na qual há um desgaste progressivo da cartilagem da patela.

A queixa comum é de dor – em geral, na região anterior ao joelho e ao redor da patela (peri-patelar), que pioram no ato de subir e descer escadas ou praticar esportes com plano inclinado ou sobrecarga de impacto. Pode haver, também, inchaço e limitação da flexão do joelho.

Muitos desses casos não são de tratamento cirúrgico, mas sim, de mudanças nos hábitos de vida, trocando-se o sedentarismo pela prática regular de exercícios. Não se fala em “cura”, mas em “como conviver melhor com o problema”. Com orientação profissional, deve-se buscar o fortalecimento da musculatura da coxa (especialmente o quadríceps) e da perna (tibial anterior, tibial posterior, fibulares  e panturrilha) e, principalmente, uma melhora da flexibilidade da cadeia posterior (isquiotibiais e panturrilhas). As dicas são: fazer o fortalecimento (cadeira extensora) um pouco mais o com angulação de 0º a 30º, e alterar o posicionamento dos pés durante o leg-press e o agachamento, em leve rotação externa. Isto costuma ajudar.

A postura em valgo dos membros inferiores se acentua durante uma marcha – e ainda mais, em uma corrida, quando, com o apoio monopodal, o joelho tem uma tendência a “ir para dentro”; o que significa que os músculos que “fecham” as pernas (adutores) são mais fortes que os que as “abrem” (abdutores). A partir daí, é gerada uma série de problemas, sobrecarregando os joelhos e os pés – além do quadril e dos próprios tendões abdutores, como o glúteo médio. O segredo para não “quebrar” é fazer um treinamento preventivo, visando o fortalecimento deste músculo.

 

FROUXIDÃO CÁPSULO-LIGAMENTAR GENERALIZADA

O tecido das mulheres é mais elástico que o dos homens, apresentando maior quantidade de uma proteína chamada “elastina”. Com esta alteração, aumenta-se muito a incidência de eventuais lesões que causem instabilidade articular em mulheres – como entorse de tornozelo, luxação de patela e luxação gleno-umeral (ombro). Poderíamos subdividir os estabilizadores articulares em estáticos (ossos e ligamentos) e dinâmicos (músculos e tendões).

Diante desta tendência, vale a pena adotar uma série de exercícios de fortalecimento utilizando elásticos do tipo thera-band, com o intuito de fortalecer os estabilizadores dinâmicos, na tentativa de fazer um “envelope” muscular confiável e reduzindo as chances de luxações.

A dica seria fortalecer os músculos do manguito rotador do ombro (supra-espinhoso, infra-espinhoso, sub-escapular e redondo menor) e escápulo-torácica; o vasto medial oblíquo do joelho; os tendões dos fibulares longo e curto do tornozelo; além dos tibiais anterior e posterior. O treinamento progressivo de propriocepção e equilíbrio, especialmente quando realizado em superfícies instáveis, é de grande valia para a prevenção.

 

FRATURA POR ESTRESSE

Ocorre como resultado de cargas sub-máximas aplicadas de forma excessiva e repetitiva sobre o osso, causando um desequilíbrio entre a formação e a reabsorção ósseas. O aumento da duração, intensidade ou frequência da atividade física sem período adequado de repouso aumenta a atividade osteoclástica (reabsorção), com enfraquecimento da cortical óssea, favorecendo a rotura e, consequente, a fratura do osso.

Geralmente, não ocorre um trauma agudo, e sim, carga repetida sobre uma determinada área de osso. E os músculos que atuam na absorção, nesses casos, geralmente estão enfraquecidos, sendo incapazes de absorver a pressão do impacto como deveriam, o que causa a sobrecarga.

Este fator é mais recorrente em caucasianos – e até 12 vezes mais frequente no sexo feminino. Até 70% dessas fraturas se manifestam em corredores. Os locais mais comuns são a tíbia (50%) e o pé (até 30%).

Alguns fatores intrínsecos, como assimetria dos membros inferiores, anteverão femoral, genovalgo, tíbias finas e pisada pronada, são relacionados ao aumento da incidência. Os fatores extrínsecos incluem: modificações súbitas no treinamento (volume, intensidade, velocidade e piso), início do treinamento por despreparo muscular ou final de temporada por sobrecarga acumulada.

A atleta sente uma dor insidiosa, limitante e localizada, que piora durante a atividade e melhora com o repouso. O tratamento depende da localização e do padrão da fratura (e, às vezes, requer cirurgia).

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