Texto: Darlene Paiva
Fotos: Divulgação
Três décadas de casamento e, em um determinado dia, a descoberta de que a união estável e as juras de amor feitas diante do padre na igreja já não valiam mais… Pior, haviam expirado há tempos e só Yolanda não tinha notado. A desconfiança partiu dentro da própria igreja, quando o padre chamou a atenção da dona de casa pela ausência mais frequente do que o normal do marido não só nas missas, mas em todas as reuniões sociais da família. Foi quando Yolanda acordou e percebeu que estava sozinha no casamento.
Depois do alerta, Yolanda passou a notar pequenos indícios de que algo não ia bem, mas que a rotina do casamento estável parecia cegá-la. Além da ausência nas reuniões familiares e a falta de interesse em realizar planos conjuntos, o marido Rubens chegava tarde em casa todos os dias.
“Como sempre fui uma mãe muito dedicada, não percebi que toda a minha energia estava concentrada nos meus filhos e nas minhas atividades da casa, e o meu marido não fazia parte de mais nada do meu dia-a-dia”, diz Yolanda.
Aos 54 anos, ainda jovem e bonita, a dona de casa viveu as três décadas do casamento dedicadas ao lar, preparando com zelo os pratos prediletos dos filhos de 28 e 30 anos. Vaidosa, nos últimos tempos, se aprontava para ir à missa ou para os passeios com as amigas. Até em viagens ao exterior dispensava a presença do marido. Com a desculpa do trabalho intenso, Rubens se afastava cada vez mais da família.
Disposta a encontrar uma prova, Yolanda achou o que precisava para concretizar o que evitava enxergar. No extrato do cartão de crédito do marido, algumas despesas comprovavam que Rubens tinha outra mulher. Contas de pagamento de roupas de uma loja feminina e de supermercado (que ele jamais fazia). “No fundo, eu me recusava a aceitar que tudo tinha acabado. Acho que nem eu continuava amando meu marido, mas a estabilidade da relação me dava certo conforto e segurança, algo que eu não queria perder”, testemunha.
Constrangimento
A constatação racional de Yolanda de que tudo terminara não tornou o processo de separação menos dolorido. Para os dois lados. Para Yolanda, a separação abalou diretamente seu ego. Rubens estava apaixonado por uma mulher, uma funcionária de sua empresa que, com pouco mais de 30 anos, poderia ser sua filha. “Essa foi a pior parte. Lembrava das vezes que ele me elogiava, dizia o quanto me achava bonita. Fiquei com vergonha diante da minha família”.
A vergonha foi de Rubens, também. Descoberta a relação com outra mulher, a família toda se voltou contra ele e vitimizou Yolanda. Rubens já não fazia as refeições com a família e não encarava seus próprios filhos. “Sair de um relacionamento é algo difícil, que exige coragem, pois as mudanças relacionadas à vida pessoal, social, filhos e até mesmo o cotidiano influenciam para que haja a decisão da separação”, avalia a terapeuta de casais Carolina Fernandes, do Inpasex – Instituto Paulista de Sexualidade, de São Paulo.
No caso de Rubens e Yolanda, a separação se consolidou porque a situação tornou-se insustentável e, em uma mudança programada de casa, ele aproveitou para não seguir com a família. Tomou coragem e foi morar com a mulher com quem estava mantendo uma relação. Rubens passou, então, a fazer parte das estatísticas de homens maduros que se separam porque se apaixonam por mulheres mais jovens.
Cultura da imagem
O Levantamento Comunitário Americano de Departamento do Censo de 2013 constatou que 20% dos homens que se casaram pela segunda vez procuraram mulheres pelo menos dez anos mais jovens que eles. O mesmo não ocorre com as mulheres: apenas 5% delas escolhem homens dez anos mais novos.
“Sem dúvida, hoje, a imagem é extremamente valorizada, assim como o estereótipo de parceria idealizada, que pode estar relacionada com algo que, muitas vezes, não será alcançado, pois não existem mulheres ou homens perfeitos”, avalia a terapeuta Carolina.
A iniciativa de dar sequência a um processo de separação contrário diante de toda a família é um comportamento que pode ser considerado novo. O fato de Yolanda não ter percebido que algo estava errado se deve, também, à cultura que herdamos de nossos pais de que o casamento deve durar a vida inteira.
“Antigamente, as pessoas tinham maior tolerância e resiliência diante das manias e defeitos do parceiro. A cumplicidade e o companheirismo eram bem avaliados diante de uma situação de crise. A sociedade percebeu que a vida pode ser recomeçada, caso essa cumplicidade e parceria não sejam satisfatórias e gerem mais sofrimento e discussões do que se espera de uma união. E temos de encarar essa nova realidade como um avanço”, avalia a especialista.
Indícios de que o casamento não vai bem:
. Poucos momentos de lazer a dois
. Brigas constantes
. Falta de planos conjuntos do casal
. Poucos momentos de conversa e namoro
. Poucos momentos ou escassez de relações sexuais
. Dificuldades financeiras e gastos geradores de estresse e crise
. Falta de comunicação do casal
. Pouca disponibilidade do casal para irem juntos a eventos sociais